sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Luz na passarela que lá vem ele

É fato que quando se termina um namoro e a condição de solteira volta a ser sua melhor companhia, rola um desespero básico. Depois de chorar todas as lágrimas possíveis pelo finado analisando o que poderia ter sido e não foi ou que não poderia ter sido e foi, chega a hora de voltar pra pixxta e brilhar no salão. Aquela sensação de carpe diem de aproveitar tudo ao máximo toma conta do nosso ser. É como depois de passar meses ou anos comendo uma saladinha leve e regrada, você um dia resolve ir num rodízio de churrasco, come de tudo e ainda repete a sobremesa. Já imaginou a indigestão, né?

A solteira tinha acabado de terminar um relacionamento com um indivíduo. E por vários motivos, o 'foram felizes para sempre' ficou para uma outra encarnação. A sorte dela (ou azar) é que a culega é uma solteira convicta, daquelas que colocam a fila pra andar em dois tempos a toque de caixa. Estufa o peito e sai de casa pra vencer. Uma amiga (sempre elas) resolveu acelerar o processo e comentou do colega gatíssimo do seu namorado que tinha acabado de ficar solteiro e também queria voltar à ativa com o pé direito. Ele era alto, corpitcho ilustrando capa de revista de malhação, sorriso Colgate e ainda um par de olhos misteriosos a la Capitu. Como se não fosse o suficiente, o indivíduo era funcionário público e ganhava um salário pra lá de respeitável. Só faltava vir no cavalo branco com as alianças no bolso. Mais perfeito que isso só se o Giane fosse hetero. A recém solteira não resistiu a curiosidade de conhecer tal preciosidade mais em extinção que ararinha azul de Grogotó do Mato e resolveu ir num show em que o delícia cremosa estaria embelezurando o recinto.

A produção da culega era coisa de louco. Do dedão do pé ao último fio de cabelo, ela foi impecável. Unhas feitas, roupa nova, cabeleira pronta pra ser batida com crasse e finura. Ela estava uma coisa leenda de se ver. Ainda tascou um gloss para aumentar os lábios e foi confiante na vitória ver ao vivo e a cores o menino-Deus. Chegando lá, solteira ficou sem voz. Solteira ficou quase cega. Solteira não conseguia dar um passinho pra frente nem pra trás. O moçoilo era tudo aquilo ao quadrado. Ele era des-lum-bran-te, retumbante, hipnotizante e delirante. Solteira engoliu em seco e quase chorou de emoção agradecendo a São Solteiro por ver aquela beldade. O cerumano era dois litros de colírio e se fosse levado pro sertão deveria fazer chover. Ele era um milagre. A emoção foi tanta que o intestino da solteira pirou na batatinha e veio uma dor de barriga daquelas de torcer as tripas. Vai vendo os sinais que ela recebeu e não atentou. Depois de bater um papo no banheiro químico, ela voltou linda, loira e japonesa pra perto do cidadão. E sem mais delongas, já começou um papo com o milagroso. Tentou conversar sobre o show, arriscou falar de futebol, comentou do aumento da inflação e ainda palpitou na política econômica mundial. E o que ouviu do príncipe dos céus? NADA. Mal mal um 'hum-hum' ou um 'é' mais desanimado que um bicho-preguiça com sono.  A culega insistiu, afinal um homi daqueles só costuma aparecer dia 31 de fevereiro à tardinha. Ao perceber que o bonitôncio só estava querendo fazer o tipo de homem-poste, ela se pirulitou e foi ver como estava a feira no lugar.

Depois de dar uns bordejos e piruetas no ambiente, ela voltava sempre para perto do homem-poste que continuava fazendo carão, acima dos outros humanos. Tá, ele era lindo, mas esnobar a ralé não precisa, né gato? Depois de duas horas de show, o evento acabou e a solteira se voltou pra turma de amigos em que o mudo estava. E é agora que a diversão vai começar! Na passarela, a fraude modelo! Eles vão se encaminhando para o estacionamento quando de repente... Vlapt! Eis que o poste-modelo simplesmente ataca nossa colega como um urso em época de acasalamento bem no meio da rua. Já não bastasse a delicadeza de rinoceronte, ele beijava num ritmo de moedor de carne com cortador de grama. Simplesmente o pior beijo que a solteira havia experimentado em sua vida. E pra piorar a pegada era dura e toda desencontrada. Foi como se ao beijar o Brad Pitt, ele macumbamente se transformasse no Russo. Antes de chegar mais perto do carro, ele joga nossa amiga na parede no estilo José Mayer pegador e dá aquela sensualizada péssima, parecendo interessado em assuntos de cama e lençol. A solteira queria ter saído do corpo naquele momento, mas o sujeito tinha cerca de doze mãos e cerca de quatro línguas na boca. Ele obviamente ofereceu uma carona pra solteira e ela teve que ser acatada, já que a amiga da culega zarpou de carro com o namorado tendo certeza que havia  reunido mais um casal top nesse mundão de meu Deus.

Antes de entrar no carro, o poste-Paulo-Zulu avisa que havia acabado de tirar carteira e que o carro era novinho. Ele só se esqueceu da seguinte pergunta: com ou sem emoção? Porque foi emoção em último grau  durante todo o percurso. Meu povo e minha pova, o menino era o sinônimo de roda dura! Não sabia passar marcha, não sabia fazer controle de embreagem direito, não conhecia setas e quase esqueceu de ligar o farol. Toda hora o carro morria ou ficava uma marcha pra trás ou tudo junto e misturado. Solteira só arregalava os olhos e via as barbaridades que o sujeito cometia no volante. Da onde ele tinha saído, gente? Era até maldade ele ser tão lindo e tão roda dura, além de ter recebido o Oscar do pior beijo do ano. Ela quase pediu pra descer num ponto de ônibus pra chegar sã e salva em casa, porque pelo menos chegaria mais rápido. Até que enfim a casa dela aparece e a solteira sai com mais pressa que corredor de maratona dizendo que aquela hora era perigoso ficar na rua. Deu aquele choquinho quase virtual e voou até a porta. Ainda ouviu o carro morrer duas vezes antes do poste-barbeiro sumir no cerrado. Fez um em nome do Pai e rogou a São Solteiro pra só ver o infeliz na capa da Caras no reveillon no Copacabana Palace. E durante boas semanas ela só tinha uma exigência aos rapazes que as amigas pretendiam apresentar: ser feio, mas feioso de arder o olho. Beijo e não me liga.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Baile da naftalina

Quando eu digo que ex bom é ex morto, neguinho acha que eu exagero na dose. Mas que é a raça que mais dá problema, confusão, desencontro e raiva é a categoria ex. Eta moçada que vive colocando a gente de cabelo em pé, viu?


Tenho uma teoria: todo mundo (sobretudo mulheres) deveria ter alergia a mofo. Sim, a alergia deveria ser aplicada nas pessoas como vacina. Você deve estar pensando que eu perdi totamente o pouco juízo que me resta. Mas se todas nós tivéssemos alergia a mofo, você acha que solteiras ficariam mexendo em baú e fraudes velhas?  Ia se começar uma espirração e coceira de nariz que iriam nos salvar de muita dor de cabeça no futuro. Ô se iam.

A solteira em questão saiu da música do Alceu Valença. Morena tropicana, com aquele ar de Camila Pitanga que poucas abençoadas tiveram a sorte de nascer. Mas nem assim a pobre ficou imune ao baú das fraudes.  Ela namorou  por pouco tempo um rapaz que era o gostosão da parada. Sua agenda de telefones era recheada de contatos a letra A até a Ômega do alfabeto grego. Fora as várias meninas suspirantes que  ele tinha de fã clube. Chegado a festas, auês e afins, o cara era o perfeito fanfarrão. A coração da culega não resistiu a tanta fama e se envolveu com o festeiro. Mas aí as coisas foram ficando com gosto de suflê de chuchu e eles terminaram amigavelmente, numa conversa de adultos que parecia encerrar uma história com classe e catiguria. 

Os eventos bombantes do fanfarrão continuaram e a morena tropicana continuou desfilando sua brasilidade pelas ruas. Até que o animado resolver dar  uma festa -especialidade da casa- e a dublê de Camila Pitanga se  arruma toda e vai pro momento flashback. Mas aí você já percebe que a solteira tava querendo colocar a mão no baú e tirar tudo quanto era roupa velha. Ela tava querendo a todo custo um momento retrô, saudosa por uma brilhantina e disco de vinil. A fraude fanfarrona deu uns ponches batizados pra solteira, rolou um 'eu perguntava do you wanna dance' e depois de três passos de twist, o broto tava no papo. E a noite foi boa como nos tempos em que vovó tinha dentes e mordia vovô atrás da moita. Ou tá achando que as sumidas que vovó dava durante a queremesse eram pra rezar o terço? 

E após aquele revival lindo e com gosto de barquete (vocês lembram daquele salgadinho pavoroso que era uma barquinha de massa recheada de maionese? Argh!), os dois voltaram a ter uma conversa amistosa e promissora no msn. Aqueles papinhos despretenciosos e gostosos que fazem a gente sorrir na hora do almoço e querer usar roupa nova todo dia, fizeram a solteira ter uma ideia. Seu baile de formatura estava por vir e quem mais poderia ir com ela do que o moço mais festejador de toda a região metropolitana? A culega já começou a pensar nos dois dançando valsa, ela toda diva em seu vestido espetaculoso, eles entrando para a eternidade no álbum de fotos. Uma coisa de comover até vilã de novela das 8 e comunista comedor de criancinha.

Combinaram então que ela iria entregar o convite dele numa festa de amigos em comum que iria acontecer naquele final de semana. Vale ressaltar que um convite pra baile de formatura custa por volta de R$ 120,00 . É coisa cara e disputada a tapa, que gera brigas em família numerosas e ciúmes nas turmas de amigos, pois o número de convites é limitado. Solteira foi toda bonitona e serelepe para a festa, disposta a ter o revival de sua vida, com o convite dourado dentro da bolsa. Ela chega na porta do apê e escuta o Silvio Santos ao fundo: 'vamos abrir as portas da esperança'! E quando as portas se abrem... Solteira quase teve um piripaque na frente de todo o público presente. Não é que o fanfarrão estava de fanfarronice com uma sirigaita que eles conheceram juntos uma vez há muito tempo atrás? E pra quem queria voltar no tempo e mexer no baú da saudade, ela se viu novamente num jantar de meses passados  na casa de amigos do fanfarrão. Nessa noite, a sirigaita namorava um zé qualquer e acabou sendo parceira de truco da solteira. Elas ficaram lado a lado e conversaram sobre vários assuntos e até descobriram ser do mesmo signo. E não é que tempos depois a sirigaita e o fanfarrão se viram solteiros e resolveram unir suas forças? Né brinquedo não.

A solteira não conseguia acreditar no que estava vendo. Mas ela já não tinha comentado com ele que iriam juntos no seu baile de formatura? E como assim que ele vai se engraçar por uma menina que  ela também conhecia e ainda por cima a leva na festa? Ela quase foi comprar um óleo de peroba pro fanfarrão lustrar a face. Ela então mais que certa joga o baú de novo no fundo do guarda-roupa e coloca o sujeito no pretérito  imperfeito. Obviamente não deu o convite pro infeliz e ainda teve que assistir de camarote durante a festa toda o novo casalzinho trocando carícias. Mais nojento que barquerte de maionese. Mas solteira brejeira não saiu do salto e continou tomando sua caipfruta e jogando o cabelão pra trás. E soube depois que o casalzinho novo namorou por um bom tempo, bem mais que o tempo que o fanfarrão passou com ela. Vai entender a lógica das fraudes, né?

Então, minha querida solteira, se te der uma vontade louca após beber umas e outras no fim da noite ou quando uma carência monstro resolver bater na sua porta, já sabe. Se der vontade de mexer em coisa antiga, faz um permanente no cabelo, vai de lambreta bater perna num brechó e escuta no walkman Nelson Rodrigues. Mexer com ex fraude é que é brega até o caroço! Não vai ficar demodée, hein?