sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Luz na passarela que lá vem ele

É fato que quando se termina um namoro e a condição de solteira volta a ser sua melhor companhia, rola um desespero básico. Depois de chorar todas as lágrimas possíveis pelo finado analisando o que poderia ter sido e não foi ou que não poderia ter sido e foi, chega a hora de voltar pra pixxta e brilhar no salão. Aquela sensação de carpe diem de aproveitar tudo ao máximo toma conta do nosso ser. É como depois de passar meses ou anos comendo uma saladinha leve e regrada, você um dia resolve ir num rodízio de churrasco, come de tudo e ainda repete a sobremesa. Já imaginou a indigestão, né?

A solteira tinha acabado de terminar um relacionamento com um indivíduo. E por vários motivos, o 'foram felizes para sempre' ficou para uma outra encarnação. A sorte dela (ou azar) é que a culega é uma solteira convicta, daquelas que colocam a fila pra andar em dois tempos a toque de caixa. Estufa o peito e sai de casa pra vencer. Uma amiga (sempre elas) resolveu acelerar o processo e comentou do colega gatíssimo do seu namorado que tinha acabado de ficar solteiro e também queria voltar à ativa com o pé direito. Ele era alto, corpitcho ilustrando capa de revista de malhação, sorriso Colgate e ainda um par de olhos misteriosos a la Capitu. Como se não fosse o suficiente, o indivíduo era funcionário público e ganhava um salário pra lá de respeitável. Só faltava vir no cavalo branco com as alianças no bolso. Mais perfeito que isso só se o Giane fosse hetero. A recém solteira não resistiu a curiosidade de conhecer tal preciosidade mais em extinção que ararinha azul de Grogotó do Mato e resolveu ir num show em que o delícia cremosa estaria embelezurando o recinto.

A produção da culega era coisa de louco. Do dedão do pé ao último fio de cabelo, ela foi impecável. Unhas feitas, roupa nova, cabeleira pronta pra ser batida com crasse e finura. Ela estava uma coisa leenda de se ver. Ainda tascou um gloss para aumentar os lábios e foi confiante na vitória ver ao vivo e a cores o menino-Deus. Chegando lá, solteira ficou sem voz. Solteira ficou quase cega. Solteira não conseguia dar um passinho pra frente nem pra trás. O moçoilo era tudo aquilo ao quadrado. Ele era des-lum-bran-te, retumbante, hipnotizante e delirante. Solteira engoliu em seco e quase chorou de emoção agradecendo a São Solteiro por ver aquela beldade. O cerumano era dois litros de colírio e se fosse levado pro sertão deveria fazer chover. Ele era um milagre. A emoção foi tanta que o intestino da solteira pirou na batatinha e veio uma dor de barriga daquelas de torcer as tripas. Vai vendo os sinais que ela recebeu e não atentou. Depois de bater um papo no banheiro químico, ela voltou linda, loira e japonesa pra perto do cidadão. E sem mais delongas, já começou um papo com o milagroso. Tentou conversar sobre o show, arriscou falar de futebol, comentou do aumento da inflação e ainda palpitou na política econômica mundial. E o que ouviu do príncipe dos céus? NADA. Mal mal um 'hum-hum' ou um 'é' mais desanimado que um bicho-preguiça com sono.  A culega insistiu, afinal um homi daqueles só costuma aparecer dia 31 de fevereiro à tardinha. Ao perceber que o bonitôncio só estava querendo fazer o tipo de homem-poste, ela se pirulitou e foi ver como estava a feira no lugar.

Depois de dar uns bordejos e piruetas no ambiente, ela voltava sempre para perto do homem-poste que continuava fazendo carão, acima dos outros humanos. Tá, ele era lindo, mas esnobar a ralé não precisa, né gato? Depois de duas horas de show, o evento acabou e a solteira se voltou pra turma de amigos em que o mudo estava. E é agora que a diversão vai começar! Na passarela, a fraude modelo! Eles vão se encaminhando para o estacionamento quando de repente... Vlapt! Eis que o poste-modelo simplesmente ataca nossa colega como um urso em época de acasalamento bem no meio da rua. Já não bastasse a delicadeza de rinoceronte, ele beijava num ritmo de moedor de carne com cortador de grama. Simplesmente o pior beijo que a solteira havia experimentado em sua vida. E pra piorar a pegada era dura e toda desencontrada. Foi como se ao beijar o Brad Pitt, ele macumbamente se transformasse no Russo. Antes de chegar mais perto do carro, ele joga nossa amiga na parede no estilo José Mayer pegador e dá aquela sensualizada péssima, parecendo interessado em assuntos de cama e lençol. A solteira queria ter saído do corpo naquele momento, mas o sujeito tinha cerca de doze mãos e cerca de quatro línguas na boca. Ele obviamente ofereceu uma carona pra solteira e ela teve que ser acatada, já que a amiga da culega zarpou de carro com o namorado tendo certeza que havia  reunido mais um casal top nesse mundão de meu Deus.

Antes de entrar no carro, o poste-Paulo-Zulu avisa que havia acabado de tirar carteira e que o carro era novinho. Ele só se esqueceu da seguinte pergunta: com ou sem emoção? Porque foi emoção em último grau  durante todo o percurso. Meu povo e minha pova, o menino era o sinônimo de roda dura! Não sabia passar marcha, não sabia fazer controle de embreagem direito, não conhecia setas e quase esqueceu de ligar o farol. Toda hora o carro morria ou ficava uma marcha pra trás ou tudo junto e misturado. Solteira só arregalava os olhos e via as barbaridades que o sujeito cometia no volante. Da onde ele tinha saído, gente? Era até maldade ele ser tão lindo e tão roda dura, além de ter recebido o Oscar do pior beijo do ano. Ela quase pediu pra descer num ponto de ônibus pra chegar sã e salva em casa, porque pelo menos chegaria mais rápido. Até que enfim a casa dela aparece e a solteira sai com mais pressa que corredor de maratona dizendo que aquela hora era perigoso ficar na rua. Deu aquele choquinho quase virtual e voou até a porta. Ainda ouviu o carro morrer duas vezes antes do poste-barbeiro sumir no cerrado. Fez um em nome do Pai e rogou a São Solteiro pra só ver o infeliz na capa da Caras no reveillon no Copacabana Palace. E durante boas semanas ela só tinha uma exigência aos rapazes que as amigas pretendiam apresentar: ser feio, mas feioso de arder o olho. Beijo e não me liga.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Baile da naftalina

Quando eu digo que ex bom é ex morto, neguinho acha que eu exagero na dose. Mas que é a raça que mais dá problema, confusão, desencontro e raiva é a categoria ex. Eta moçada que vive colocando a gente de cabelo em pé, viu?


Tenho uma teoria: todo mundo (sobretudo mulheres) deveria ter alergia a mofo. Sim, a alergia deveria ser aplicada nas pessoas como vacina. Você deve estar pensando que eu perdi totamente o pouco juízo que me resta. Mas se todas nós tivéssemos alergia a mofo, você acha que solteiras ficariam mexendo em baú e fraudes velhas?  Ia se começar uma espirração e coceira de nariz que iriam nos salvar de muita dor de cabeça no futuro. Ô se iam.

A solteira em questão saiu da música do Alceu Valença. Morena tropicana, com aquele ar de Camila Pitanga que poucas abençoadas tiveram a sorte de nascer. Mas nem assim a pobre ficou imune ao baú das fraudes.  Ela namorou  por pouco tempo um rapaz que era o gostosão da parada. Sua agenda de telefones era recheada de contatos a letra A até a Ômega do alfabeto grego. Fora as várias meninas suspirantes que  ele tinha de fã clube. Chegado a festas, auês e afins, o cara era o perfeito fanfarrão. A coração da culega não resistiu a tanta fama e se envolveu com o festeiro. Mas aí as coisas foram ficando com gosto de suflê de chuchu e eles terminaram amigavelmente, numa conversa de adultos que parecia encerrar uma história com classe e catiguria. 

Os eventos bombantes do fanfarrão continuaram e a morena tropicana continuou desfilando sua brasilidade pelas ruas. Até que o animado resolver dar  uma festa -especialidade da casa- e a dublê de Camila Pitanga se  arruma toda e vai pro momento flashback. Mas aí você já percebe que a solteira tava querendo colocar a mão no baú e tirar tudo quanto era roupa velha. Ela tava querendo a todo custo um momento retrô, saudosa por uma brilhantina e disco de vinil. A fraude fanfarrona deu uns ponches batizados pra solteira, rolou um 'eu perguntava do you wanna dance' e depois de três passos de twist, o broto tava no papo. E a noite foi boa como nos tempos em que vovó tinha dentes e mordia vovô atrás da moita. Ou tá achando que as sumidas que vovó dava durante a queremesse eram pra rezar o terço? 

E após aquele revival lindo e com gosto de barquete (vocês lembram daquele salgadinho pavoroso que era uma barquinha de massa recheada de maionese? Argh!), os dois voltaram a ter uma conversa amistosa e promissora no msn. Aqueles papinhos despretenciosos e gostosos que fazem a gente sorrir na hora do almoço e querer usar roupa nova todo dia, fizeram a solteira ter uma ideia. Seu baile de formatura estava por vir e quem mais poderia ir com ela do que o moço mais festejador de toda a região metropolitana? A culega já começou a pensar nos dois dançando valsa, ela toda diva em seu vestido espetaculoso, eles entrando para a eternidade no álbum de fotos. Uma coisa de comover até vilã de novela das 8 e comunista comedor de criancinha.

Combinaram então que ela iria entregar o convite dele numa festa de amigos em comum que iria acontecer naquele final de semana. Vale ressaltar que um convite pra baile de formatura custa por volta de R$ 120,00 . É coisa cara e disputada a tapa, que gera brigas em família numerosas e ciúmes nas turmas de amigos, pois o número de convites é limitado. Solteira foi toda bonitona e serelepe para a festa, disposta a ter o revival de sua vida, com o convite dourado dentro da bolsa. Ela chega na porta do apê e escuta o Silvio Santos ao fundo: 'vamos abrir as portas da esperança'! E quando as portas se abrem... Solteira quase teve um piripaque na frente de todo o público presente. Não é que o fanfarrão estava de fanfarronice com uma sirigaita que eles conheceram juntos uma vez há muito tempo atrás? E pra quem queria voltar no tempo e mexer no baú da saudade, ela se viu novamente num jantar de meses passados  na casa de amigos do fanfarrão. Nessa noite, a sirigaita namorava um zé qualquer e acabou sendo parceira de truco da solteira. Elas ficaram lado a lado e conversaram sobre vários assuntos e até descobriram ser do mesmo signo. E não é que tempos depois a sirigaita e o fanfarrão se viram solteiros e resolveram unir suas forças? Né brinquedo não.

A solteira não conseguia acreditar no que estava vendo. Mas ela já não tinha comentado com ele que iriam juntos no seu baile de formatura? E como assim que ele vai se engraçar por uma menina que  ela também conhecia e ainda por cima a leva na festa? Ela quase foi comprar um óleo de peroba pro fanfarrão lustrar a face. Ela então mais que certa joga o baú de novo no fundo do guarda-roupa e coloca o sujeito no pretérito  imperfeito. Obviamente não deu o convite pro infeliz e ainda teve que assistir de camarote durante a festa toda o novo casalzinho trocando carícias. Mais nojento que barquerte de maionese. Mas solteira brejeira não saiu do salto e continou tomando sua caipfruta e jogando o cabelão pra trás. E soube depois que o casalzinho novo namorou por um bom tempo, bem mais que o tempo que o fanfarrão passou com ela. Vai entender a lógica das fraudes, né?

Então, minha querida solteira, se te der uma vontade louca após beber umas e outras no fim da noite ou quando uma carência monstro resolver bater na sua porta, já sabe. Se der vontade de mexer em coisa antiga, faz um permanente no cabelo, vai de lambreta bater perna num brechó e escuta no walkman Nelson Rodrigues. Mexer com ex fraude é que é brega até o caroço! Não vai ficar demodée, hein?

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Eu voltei, voltei para ficar...

Cá estou novamente com o Santa Solteirice. O meu longo e demoradíssimo sumiço do mundo virtual teve lá seus motivos. Motivos mais que conhecidos de todos: trabalho, estudos, viagens, falta de tempo e ... fraudes. Sim, gastei um bom tempo com as minhas fraudes e as dos outros. Mas quero dizer que não sumirei mais e nenhuma fraude, por mais forte e fraudulenta que seja não irá me retirar do Santa Solteirice. Ou tá achando que sou lá mulezinha, rapá??

Para voltar em alto estilo, mais um caso para você pegar a caixa de lenços e se acabar de chorar. De tristeza ou de alegria, você escolhe.

Há muito tempo atrás, a solteira que estava numa solteirice bonita e radiante, distribuindo beijos e se engalfinhando saudavelmente pelas ruas, conheceu num evento um moço pra lá de bonito. Alto, vozeirão de cantor de bolero e um sorriso daqueles de perder o rumo de casa. Bonito e de outro estado, o que já acresce no currículo do bofe quatro pontos extras. Porque material importado tem lá seu charme, né? Mesmo se ele for de algum lugar como Grogotó do Monte ou Brejo Mirim. Só que bem nessa noite apareceu para a solteira um outro rapaz na área mais rápido e  trocaram beijocas apimentadas durante todo o evento. O tempo passou e o bonitoso e a solteira se reencontram uma outra vez. Começaram a conversar, a papear, mas ela teve que ir embora rapidamente sem nem deixar rastro. Meses se passaram e dois encontros aconteceram. Em ambos a solteira viu a fraude de braço dado e todo suspirante exalando corações com uma menina. Namoro fervente, dava uma alegria sem fim em ver um casal tão feliz juntos. A solteira se esqueceu do moço agora com vaga ocupada e foi viver a vida que já é corrida por demais.

A vida seguia seu curso calmo e normal. E São Solteiro lá de cima resolveu movimentar o esquema e colocar uma lenha na fogueira. Provavelmente deveria estar sem muito o que fazer e foi bulir com quem tava quieto. E o alguém quieto era a solteira em questão.

Em plena segunda-feira a culega foi convidada prum auê que parecia dos bons, de se riscar o salão à noite toda com direito a gente bonita e música da boa. Era convite irrecusável e ela foi. Se embonecou num vestido verde bandeira mais chamativo que árvore de Natal, tascou uma alegria contagiante no rosto e se mandou pro festejo. Lá chegando, dá de cara com o embelezurado. Só que como dizia minha tia, beleza não põe mesa, mas dá um apetite... Vamos lembrar que a carne é fraca e carne de solteira é mais fraca ainda. Se cumprimentam normalmente, sem grandes demonstrações de euforia. Ele foi conversar com uns amigos e ela com as amigas, desfrutando daquela segunda com cara de sexta. Parecia que era de praxe ela encontrar o dito cujo em ambientes salpicados de bons partidos. Pena que dentre tantas opções com potencial, a solteira foi logo se engraçar pra fraude mais pertubada dos últimos tempos.

Eis que no meio do assunto da solteira com sua amiga o mancebo dá o ar da graça e se intromete na conversa de maneira simpática e sedutora. Solteira já jogou a amiga pra escanteio e ficou batendo bola com a fraude. E fraude sabe envolver, né? É um assunto que te pega pelo pé, um toque no cabelo, um olhar mais demorado... Quando você percebe já está enlouquecida pra se atracar no sujeito. E após todas as linguagens corporais possíveis da solteira, após todos os assuntos em comum, após dançar forró (!!) 2x com o bendito, finalmente o moço toma uma atitude depois de 18h de jogo. E sim, foi gol. As beijocas foram boas,  mas a solteira já sacou que a fraude estava apenas se divertir e nada mais. E como a solteira também não pensava em utilizar o sobrenome dele nem juntar as escovas de dente, aproveitou a noite. Ele pegou o número dela e fim da história. Fim da história? E desde quando fraude que se preze não tem que fazer um papelão básico?

No outro dia, a solteira foi trabalhar ainda sonolenta e abriu sua caixa de email. E lá havia um email do cidadão da noite anterior. Como o email não foi imediatamente pro spam é um mistério, porque o conteúdo deveria ter sido barrado nem que fosse pelo próprio Steve Jobs. A solteira inocente abriu o email e se deparou com um disparate tamanho extra G. O bonitão da bala Chita diz que sem-querer-querendo a excluiu de uma rede social da qual eram amigos porque ele havia terminado um namoro há pouco tempo (sim, aquele namoro citado no começo do caso) e ficou com medo da solteira deixar recados para ele. Cumequié? Neguinho tava pensando que a culega ia deixar declarações de amor, convites pra sair de forma visível para que todos vissem? Quantos anos ele pensou que ela tinha, gente? 13? E se nem o telefone do indíviduo ela pegou, será que ela realmente iria apelar pra rede social?? Porque faz toooodo o sentido. A menina nem pega o telefone do cara e no dia seguinte já escancara pra todo mundo ver um recado pra ele. Se ele tivesse comentado o endereço onde mora, ela teria colocado uma faixa de frente pra janela com um convite pra saírem. Eu tô muito doida ou o cara pirou na batatinha?

E pra fechar com chave de ouro, ainda pergunta se pode adicioná-la novamente aos amigos. Ó, quem tiver telefone de analista pra ajudar esse irmão, deixa aí na parte de recados. Porque a indecisão é tanta que ele já nem deve saber o próprio nome. Pode ser João, Michael, Diógenes ou quiçá Apolinário. Ele não tinha excluído a pobre menina com medo que ela desse bafão na rede? E agora quer adicioná-la de novo? Se eu fiquei cafusa com a história, imagine a solteira. Eu já disse isso aqui uma vez e repito: depois dizem que as mulheres são difíceis. Ah tá.

Se eu estivesse na pele da solteira falaria meia dúzia de impropérios daqueles de ter que rezar umas 50 Ave Marias pra compensar os pecados e mandava o sujeito pra ala do pretérito imperfeito. Mas a solteira é moça educada e pretende ir pro céu sem muita delonga. Mandou um email gentil pro indesivo dizendo que se ele quisesse adicioná-la novamente poderia, mas que isso não causasse nenhum mal à vida dela. Porque vai que a ex olha isso e não gosta. E ex é melhor a gente deixar no fundo do baú fechado a sete chaves. Como o rapaz não sabe se toma um sorvete de creme ou faz mestrado pra ciências políticas, adicionou a solteira e obviamente não recebeu nem meio comentário em seu perfil. Porque pro cara acordar um dia e te pedir em casamento nem custa. E no outro te ignorar custa menos ainda.

Não satisfeito com o troféu Papelão do Ano, o desinfeliz manda mensagem uma semana depois pra solteira chamando pra sair. Mas é óbvio que de uma forma sutil como uma capivara e  sem assssinar a mensagem. A culega olhou uns 5 segundos pro celular pensando se não havia recebido mensagem por engano. Quando se deu conta de quem era nem teve o trabalho de responder. Não há educação que aguente gente indecisa e com um tiquim assim de maluquice, né? Vamo pegar com São Solteiro porque a vida não tá fácil, gente!!


ps.: se você tem um caso fraudulento, entre em contato. Teremos o maior prazer em colocar umas pitadas para deixá-lo ainda melhor.

domingo, 16 de maio de 2010

Queimadores oficiais de largada

Já reparou em gente que gosta de queimar a largada? Um povo que antecipa as coisas, tem reações fora do contexto, se precipita e irrita o outro. Pior são os que resolvem discutir a relação que nem se iniciou ainda. Dá vontade de mandar o sujeito amarrado num foguete ir conversar com o dragão de São Jorge ou bater dois dedinhos de prosa com São Solteiro.

A solteira paquerou por um bom tempo um moçoilo tentador. Alto, cabelos cacheadinhos como de um anjo, corpitcho de dar água na boca. Mas nunca conseguia cavar uma oportunidade e coragem suficientes de conversar com o Apolo. É, a solteira em questão devia estar passando por um momento difícil. Ver um Apolo solteiro em BH dando sopa é quase como encontrar cabeça de bacalhau. Encontrá-lo e não estabelecer comunicação é digno de levar três bofetadas por dia pra ver se endireita o corpo. Eu acho.

Tempo depois, se encontraram num evento em que ele finalmente reparou na moçoila e até rolou um climinha interessante, mas só isso. Aí os meses, a vida e as fraudes passaram. E enfim chegou o grande dia. Solteira se embonecou numa frente única linda pra sair à noite do jeito que o diabo gosta e ficou livre-leve-solta em função de umas doses de cachaça intercaladas com cervejinhas. Do jeito que o diabo gosta parte II. O Apolo apareceu no local quase no final da noite com aquela cara de homem bulinador de mulher que faz nascer um calorão na gente. A solteira fingiu que não viu e se posicionou estrategicamente. Ele apenas não só viu como cumprimentou, papeou, seduziu e a chamou pra dançar. Aí foram mais alguns goles na cerva, um olho-no-olho e pimba, beijo! O encanto começou a cair nesse exato momento. No lugar de ouvir sininhos no encontro labial, rolou uma sonora buzinada do Chacrinha na cabeça da solteira. O beijo foi entendido de formas distintas por ambas as partes. Enquanto ele achava que deveria beijar sem língua, ela tava no espírito Roto Rooter. Grande e importante diferença de objetivos, lembre-se disso. Ainda assim ele a chamou para dormir em sua casa umas três vezes durante a noite, deixando claro o que queria. A solteira não quis e se despediram. No dia seguinte ele queria vê-la mas não deu, pois teve que trabalhar. Acabaram se vendo no outro dia rapidinho, já que a solteira ficou resfriada e não estava podendo fazer muita coisa. A fraude tentou novamente assuntos de cama e lençol que foram gripadamente negados.

Durante a semana em que ela ficou na base do Naldecon, Aspirina, Benegripe e afins, ele mandou mensagens perguntando se ela estava melhor, ligou uma 3x e a chamou para sair. A solteira não telefonou nenhuma vez e se limitava responder as mensagens. Finalmente ela melhorou e eles se encontraram brevemente. Deram uns beijinhos fracos, mas um ficou feliz em ver o outro. No dia seguinte tiveram uma saída decente ou indecente.

Ele trabalhou até tarde e encontrou a solteira altas horas. Falando que estava cansado e que queria algo mais light, sugeriu irem para sua casa tomar umas cervejas. Uma das desculpas mais antigas que se tem na face da Terra para transar com alguém. A solteira relutou um pouco mas acabou topando a empreitada, afinal um cara daqueles merecia atenção maior. Chegando no apê do sujeito, outra decepção. A casa fedia a cigarro, o sofá era xexelento, tinha uma mesa velha cheia de trecos, banheiro meia boca e com a janela quebrada. Parecia casa concorrente do 'Lar doce lar' do Luciano Huck. Se começou um embolamento no sofá xexelento entre os dois sem muita química. Uns beijos sem gosto, uns abraços truncados, a pegada desencontrada... Triste, mas a solteira continuava ali na esperança de um futuro melhor. Afinal, a gente é brasileiro e não desiste nunca. O que resolve fazer o rapazote? Levanta do sofá, acende um beck e se senta numa cadeira de frente pra ela e a pergunta qual foi a última vez que se apaixonou. Que mêda! A solteira desconfiou que ele estivesse doidão, mas não estava. Ele não estava; ele era. Apolo depois veio com um papinho que desde seu último namoro não estava conseguindo se envolver com ninguém, que deveria ser isso a resposta da falta de 'fogo' dos dois... A solteira quis ser absorvida pelo sofá xexelento ou fazer com que ele virasse um pudim. Você na casa do sujeito, no sofá do sujeito, beijando o sujeito. Ele se levanta, dá um tapa na pantera e fala que vocês não estavam num 'fogo'. Tico e Teco da solteira ficaram muito confusos e ela olhou pro teto procurando a câmera. Só podia ser pegadinha do Malandro.

Não satisfeito com a resenha, o Apolo veio falando que estava num momento de ficar dentro dele, não estava conseguindo sair pra se envolver, estava num momento de não se abrir. Mas você é um homem ou uma lata de sardinha enferrujada? A solteira, sem muitas palavras, disse que não pensava em ser tão audaciosa em relação a eles. Tradução: querido, não dá pra você fazer igual o Latino e tocar o terror promovendo uma festinha no apê? Depois de tentar explicar sem nenhum sucesso o momento difícil que passava, Apolo contou sobre sua vida, seus pais, onde morou, livro que leu, receita de bolo, exame de fezes, tudo. Solteira estupefata no sofá xexelento só ouvia. O momento ápice da noite foi quando depois de falar até babar, ele saca um violão e toca canções olhando nos olhos da culega. E depois a convidou pra ir no cinema. Ela viu a cena e teve uma vontade incontrolável de espatifar a viola na cabeça da fraude. Achando que tinha conquistado a presa com seus dotes de Oswaldo Montenegro, ele a levou para seu quarto tentando assuntos que se resolvem sem roupa. A solteira estava mais fria que Sibéria e Apolo pergunta se ela era feita de ferro. Ela se apenas olhou para o cidadão e indagou se ele não tinha a menor ideia do porquê ela não queria nada. Ele pensou três segundos e concluiu: é, estraguei tudo. E quase retomou a ladainha sentimental pra se justificar, mas a solteira impediu a chatisse e pediu pra ir embora. Apolo deu carona e no carro falou qual era o real motivo daquela fraude toda. Disse que estava num momento galinha e que como ela era legal e especial, não queria pisar na bola, não estava nessa sintonia. Solteira quase pediu pra parar o carro e vomitar. Mas ainda se usa essa desculpa pra falar que não está mais afim de alguém? Em qual século estamos mesmo, gente? Depois de ouvir as asneiras, ela passou a mão na cabeça dele, disse que entendia tudo, que ele não precisava se justificar de absolutamente nada, deu um choquinho de despedida. Entrou em casa e pensou que teria sido muito mais fácil, rápido e menos enfadonho ele ter a trazido pra casa no começo da noite e depois sumir do mapa. Bastava negar uns convites pra sair, não retornar ligações ou mensagens no celular que o recado estaria dado. Mas não. O Apolo preferiu a forma mais chata de se terminar algo que não tinha nem começado ainda.

Sendo assim ela concluiu que se ficasse com ele mais uns três meses, a fraude já estaria escolhendo nomes dos filhos  e olhando na Caixa Econômica os juros para comprarem uma casa financiada. É, o melhor é se divertir com os pobres mortais mesmo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Conhecimentos empíricos do vestido de oncinha

O sentimento que me domina ao escrever estas linhas é raiva, indignação e a vontade gigante de dar um cocão na solteira da história. A gente até tenta entender comportamento estranho dos fulanos mas e quando quem resolve passar umas 10 vezes na fila do vacilo é a culega? Cadê meu rivrotil, Jesus?

Quando o assunto é amiga (solteira, casada, enrolada, fraudulenta), a gente sempre dá apoio. Mas às vezes a experiência é a melhor conselheira. Fim de semana se aproximava e como sempre trazia a pergunta que nunca quer calar: o que fazer na noite de sexta-feira? A opção escolhida por duas amigas foi ir a um inferninho bastante conhecido. E lá, ao contrário do local do último post, era recheado de homem bonito do rodapé a chaminé. Cientes que a noite seria de arromba, uma solteira vai com uma roupa mais simples, aquela combinação infalível de short e camiseta. Já a outra, querendo destruir as estruturas do local, aparece estonteante num vestido de oncinha, com direito a um decote frontal de desencaminhar padre e gay. Ela não estava para brincadeiras nem queria fazer amigos aquela noite. Ela farejava confusão como uma onça faminta. E encontrou um osso duro de roer. E roeu até o último farelo lambendo os beiços.

Estavam no local há pouco tempo e um sujeito resolve puxar papo com a onça fatale. Rapaz gaúcho, bonitinho, baixinho com cara de menino, geólogo e bom de papo. Cerveja vai, cerveja vem, rock vai, rock vem e em meia hora eles se beijaram. Um beijo normal, sem grandes doses de hormônio. Ele sozinho, ficou com as duas conversando um tempo. A onça girl estava feliz, nem tinha esquentado lugar direito e se enroscou com um indivíduo. A outra ficou feliz pela solteira e continuou dançando e trocando olhares pela noite. O gaúcho resolve dar uma volta pelo bar e não volta. Era possível avistá-lo de longe, o infeliz estava de papo com outra menina e também não parecia querer fazer uma nova amizade. As solteiras se olharam e comentaram que ele só poderia ser louco. Minutos depois ele se engalfinhava com a outra, no típico estilo micareta-auê-17anos-vamobeijánaboca. Simples assim. Não que a solteira quisesse casar com a fraude, mas era preciso ele ser tão babaca?

Começou a nascer um ódio no coração da onça fatale e de sua amiga. A primeira se atracou nas long necks e colocou o fígado para trabalhar. Chafurdou no álcool e bye bye sanidade. O contexto também não ajudava em nada: não é que o gaúcho micareteiro já tinha trocado de par? Sim, agora arrastava a asa pruma outra guria, e daí. Coração de solteira sofre também, poxa. A bola deu uma murchada, ela encardiu umas indignações e nessa hora sua companheira solteira resolveu oferecer o ombro amigo. Falou que o cara era um idiota de marca maior, que ela era linda e estava uma coisa aquela noite, que esquecesse o famigerado gaúcho e brilhasse na pixta. A oncinha escutou, refletiu, pediu mais uma cervejita pra molhar a garganta e voltou a dançar, já tendo superado o pequeno trauma. Mas não. No meio da noite ela diz que vai ao banheiro e encontra o gaúcho sozinho. Resolve então bater uma DR bêbada no meio de um bar lotado com um imbecil perguntando porque ele tinha agido assim. Obviamente o gaúcho micareteiro respondeu qualquer asneira e despachou como macumba a onça problemática. A outra solteira não acreditou como ela pode ter ido pedir explicações, era o fim mas também bem feito para ela.  A Alice pensou que o gaúcho fosse pedir desculpas e saiu com o rabo no meio das pernas. Foram dançar e de vez em quando trombavam com o ridículo Don Juan de meia tigela.

Altas horas da madruga, naquele estágio de chamar urubu de meu lôro, a onça ébria percebe um homem completamente bêbado dando mole para ela no balcão do bar. Digamos que se até a Lacraia chegasse perto dele, ouviria um elogio canastrão. O sujeito exalava álcool pelos poros, via tudo meio embaçado e já falava em inglês, língua predileta de bebum. Ainda se fosse o Brad Pitt te paquerando, bêbado daquele jeito não teria a menor graça (retiro o que disse: se o Brad bêbado desse apenas um sorrisinho pra mim, eu já pedia em casório). Mas a onça resolveu investir e ficou com o pudim de cachaça. São Solteiro deve ter coçado a cachola e deixou rolar, assim como sua amiga boquiaberta do outro lado do salão. Pela primeira vez na história desse país um polvo tentava acasalar com uma onça, pois o cachaceiro queria colocar seus tentáculos nos lugares mais difíceis e íntimos possíveis. Ela tentava se desviar, tentava conversar com o sujeito (conversar com bêbado às 5 da matina só deve funcionar no reino dos felinos) mas ele estava disposto a estudar anatomia aqui e agora. Os dois quase caindo sobre o balcão, ele com os olhos embaciados, ela querendo discutir sobre a insustentável leveza do ser e o pinguço disposto a traçar a culega. Percebendo que a situação não estava lá das melhores, a onça etílica retorna meio jururu para sua amiga e reclama dos gestos nada gentis do cavalheiro que conhecera no balcão. A solteira quase ri, pois vê que sua amiga é birutinha da cabeça. Pergunta se ela realmente achava que uma fraude zêbada às 5 da manhã num bar estava querendo jogar gamão, aprender a falar romeno ou saber qual era o livro de sua vida. Escuta de réplica: ele parecia que estava gostando de mim, se bem que toda hora falava do meu decote... Tsctsctsc.

A oncinha na hora de ir embora olha para amiga e pergunta se não deve voltar ao gaúcho e dar seu telefone a ele. OI?? Para o mundo que eu, tu, eles e todos queremos descer. A solteira queria dar seu telefone ao gaúcho que pensava estar numa micareta, era um imbecil e não queria saber nem de pele, bigode ou pata de onça. E não vale dizer que  ela teve essa infame ideia por causa do álcool. Isso é total falta de noção na vida, loucura no ápice ou pura vontade de causar um colapso nervoso nas amigas. Depois de ficar com um bêbado nadando da lama, discutir a relação inexistente com um adolescente tardio, ela ainda queria dar seu telefone pro juvenil. Perceba que a condição de onça foi substituída por uma de anta, anta com todas as letras. Cadê a solteirice saudável e feliz dessa culega, gente? Onde ela escondeu o mínimo de bom senso? Ela bebeu a autoestima toda com cerveja? Depois de ouvir um sonoro 'você é burra ou o quê?' a onça repensou e achou que o melhor era voltar para a toca. Entre felinos, micareteiros, antas e bêbados todos se salvaram.

Ser solteira requer um jogo de cintura incrível, sobretudo quando sua amiga decide explodir seu marcapasso.

Solteiras, fica a lição: cuidado ao usar uma estampa de oncinha. Você pode ser acometida pela síndrome da anta maluca.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Samba do crioulo doido

Você já sambou descalço no asfalto quente? Ou curtiu uma night com um tomador de remédio controlado? Senhoras e senhores, se segurem em suas cadeiras que o estandarte do sanatório geral vai passar!

Sexta, samba e solteirice: combinação bombástica. Duas solteiras resolveram atender o chamado do tamborim e foram se esbaldar num samba quente. O local era conhecido pela música de primeira, coisa de fazer múmia quebrar as cadeiras de tão bom. O único probleminha era a feiúra dos frequentadores masculinos, como se ali acontecesse semanalmente o 'Congresso Nacional dos Feios e Esquisitos'. Mas solteira que é solteira não sai de casa só para arrumar bofe, sai para se divertir e sassaricar muito pela noite. Sem nenhuma pretensão amorosa, elas rumaram pro sambictha.

E dá-lhe remelexo, suingue, rebolado e simpatia. Tanto alto astral chamou a atenção de dois interessantes moçoilos que deveriam ter errado o estabelecimento e caíram lá. Quando as solteiras viram o Ibope subindo começaram a sambar como a Valéria Valenssa em tempos idos. Os indivíduos se aproximaram e cada um foi para sua vítima. Uma delas se engraçou com o mais alto, mais forte e brincalhão. A outra ficou interessada pelo mais baixinho, mais calado e de toca na cabeça. Comecem a reparar os indícios do furacão. O sujeito me bota uma toca pra ir  num samba, lugar com 102% de certeza a alcançar fácil os 48°C. Tá. O papo da paquera se desenrolou normalmente até o nanico contar que na verdade a toca estava protegendo os pontos que ele havia levado na cabeça depois de rolar ribanceira abaixo. Tinha também machucado os braços e costas, como se tivesse feito carinho em muro de chapisco. Completando o pacote, era a terceira, TERCEIRA vez que o fulano rachava a cuca. Histórico muito interessante. Naquele forno o cara vai de toca, com pontos na cabeça, não consegue nem ficar muito tempo de pé por causa dos machucados e conta a história como se fosse bem divertida. Nesse momento era hora dela dizer que ia comprar cigarros e não voltar nunca mais, porque os sinais de maluquice aguda eram claros. Mas a solteira com problemas graves de cognição não entendeu e beijocou o fugitivo do Raul Soares a noite toda. Os telefones foram trocados e cada um foi para sua casa. Ou hospício.

No dia seguinte a solteira convidou o raparigo prum outro sambinha, no que foi atendida. Deram poucos beijos e conversaram menos ainda, já que ele não era muito falante. Duas semanas depois e algumas mensagens trocadas, eles se encontraram no samba de sexta. Ela foi sozinha e não recebeu muita atenção do pertubado, que ficou muito mais tempo papeando com seus amigos, coisa parecida com um caso citado aqui. Uma semana se passa e a solteira retorna no mesmo batlocal e bathorário acompanhada por sua amiga sambista e uma colega dela. Muito estranhamente, o tarja preta não dá papo e muito menos assistência pra sua ficante. Ela entendeu que ele não estava mais afim e continuou sambando até furar a sola do sapato. Até que uma hora viu o infeliz conversando bem animado com a colega de sua amiga e fingiu que nada estava acontecendo. Sambou no salto alto e escutou da tal colega a confirmação que o toca estava dando de cima, mas que ela nunca faria nada respeitando à solteira. Chamou o menino de galinha e safado e deixou claro que não tinha o menor interesse. Humhum... A colega do coração de ouro passou a noite todinha conversando, sorrindo e jogando o cabelo sedutoramente pro louco, tipo uma mini Joelma do Calipso. O rapaz parecia ter superado sua dificuldade em falar, pois era um verdadeiro palestrante de tanto assunto que arrumava. Agora um momento reflexivo. Você sai de casa toda embonecada sabendo que irá esbarrar com a fraude que está ou estava beijando e encontra a colega inocente da sua amiga. Daí fica claro que o moçoilo não quer mais te beijar, coisa mais que normal e compreensível. Só que ele se engraça pro lado da menina que estava com você e ela retribui as investidas dele, sendo que na hora de despedir da colega, percebe que eles trocaram de telefone nas suas costas.  Diante da cena surreal, marque a opção correta: a) quebre uma garrafa na cabeça dele, pois que diferença fariam cinco novos pontos numa cuca toda destroçada?; b) jogue sal com pimenta nos olhos da menina retribuindo a gentileza que ela lhe fez; c) compre duas passagens só de ida para o Afeganistão e dê para o casal de pombinhos curtir sua paixão explosiva; d) vá embora com o queixo arrastando no chão. A solteira escolheu a última alternativa e voltou azul Avatar pra casa de tão chocada.

No dia seguinte nossa pobre solteira fica sabendo que o psicótico convidou a fura olho pra ir num outro sambinha que por coincidência ela também iria. (é impressão minha ou esse povo só conhece um estilo musical na vida? Jesus de Nazaré, é tanto samba que já estou com as pernocas doloridas!). A solteira deixa claro a fura olho que o caminho era livre, se eles estavam um afim do outro que se pegassem e fossem felizes. A outra depois de receber o green card, ainda tem a audácia de sugerir a solteira que ficasse com o maluqueto. Se porte de arma fosse liberado, tinha gente que nessa noite ia voltar igual peneira de tanta bala. Quinze minutos depois, a coração de ouro e o sem noção se beijavam como se não houvesse amanhã. A solteira ficou hiper mega sem graça, afinal os amigos dele que ela acabou conhecendo estavam ali assistindo tudo e rindo. Situação chata, mesmo ele não valendo R$ 0,30 e não ter se envolvido com nossa amiga. Ela queria ter ficado invisível, ter se transformado em pilastra ou ser abduzida, mas continou firme e forte sambando na avenida. A noite acabava com gosto de batida de jiló com boldo. Uma semana depois a solteira voltou com suas amigas no mesmo lugar e viu o maluco beijando outra menina diferente. Esfregou os olhos achando que era alucinação, mas viu que a fila dele corria mais que atleta do Quênia na São Silvestre.

O que aconteceu depois é roteiro de filme. Em três semanas o casal  sem noção começou a namorar firme, com direito a buquê de flores na comemoração de um mês de joselitices juntos. Quatro dias após a festividade, eis que o destino prega uma peça a solteira e reúne em um só lugar sua amiga sambista, ela e a fura olho. O Tonho da Lua não estava presente porque tinha ido no aniversário da madrinha, mas meia hora depois chegou sorrateiramente no recinto sem avisar sua amada. E aí foi um Deus nos acuda. A namorada Joelma ficou com sangue nos zóio e desabafou com as mulheres que tinha uma intuição ruim sobre ele, que ele não prestava e blábláblá. Sei... Completando o quadro nonsense, o mané nem foi cumprimentar sua querida ninfa, ignorando-a completamente. A fura olho mostrou a que veio e teve um surto, chorando horrores no meio do salão e dizendo que ia embora naquele instante. Trocou algumas frases com o abilolado e terminou o romance ali mesmo, no calor da fúria. Não é preciso dizer a graça que a solteira achou daquele circo todo, era melhor que a encomenda. O namoro relâmpago acabou com mais baixarias, a ponto dele a excluir do MSN e ela soltar um cabeludo palavrão cada vez que alguém citava o nome do desgramado. A solteira delirou e foi pra galera, agradecendo aos céus por ter se livrado de uma fraude tão atormentada. 

São Solteiro não abandona devota fiel e sempre arruma um mestre-sala pra qualquer porta-bandeira. Chora cavaco e segura percussão!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vá de retro!!

Tem gente que consegue manter contato com o pessoal que foi pro andar de cima- ou de baixo. Os espíritos se comunicam por copos que movem, cartas psicografadas, pequenos sinais. Agora cadáver usando telefone é novidade na área. Xô urucubaca!

Numa bela manhã, a solteira foi para uma reunião. Queria ter ficado fazendo ginástica, mas foi de bom humor. O compromisso era a 40km de distância. Ok, era longe pra caramba, mas o esforço compensava o resultado. Ela pegou um trânsito enorrrme no trajeto, mas colocou um cd do Beck no carro e relaxou. A reunião demorou horrores e ela voltou exausta e verde de fome, entretanto se saiu super bem com o cliente. E a pobre achando que aquilo era o pior que poderia ter acontecido no dia. Pobrezinha mesmo.

No meio da tarde a secretária passou uma ligação sem dizer quem era. A solteira imaginou ser alguém familiar e atendeu displicentemente. Eis então que do outro lado da linha e da vida, surge a voz de um ex namorado falecido há no mínimo cinco anos. O sujeito depois de sua morte não tinha estabelecido nenhum tipo de contato sobrenatural. Tava morto, enterrado e sepultado. Para confirmar sua moribundez, diz que teve um sonho ruim com ela e ficou preocupado. A partir daí a conversa se desenrola naquele papinho mais velho que andar pra frente. Indagações sobre a vida, trabalho e... relacionamentos. O defunto pergunta se a solteira tinha casado e ela responde que estava separada e curtindo a vida. Ele informa na lápide que continuava casado mas sua relação não estava bem- do verbo 'quero-trair-minha-esposa'. O cerumano é bicho estranho. O sujeito resolve aparecer cinco anos depois dizendo que teve um pesadelo daqueles com você e te informa que o casamento está indo pro beleléu. Aí quando a gente vê uma fraude assim na rua e muda de passeio, eles acham que ficamos loucas. A solteira encerrou o papo e pensou se devia mandar celebrar uma missa pro infeliz.

Nossa amiga continou trabalhando até que seu celular toca. Para espanto do coveiro, era o defunto número dois que jazia há mais ou menos um ano. Quase rindo da situação ela atende o telefone. Mal fala alô e já escuta um 'oi linda' de arrepiar os cabelos e na lata é informada que o morto está mal por sentir a falta dela. Antes da solteira recuperar o fôlego diante de tamanho disparate, ele tasca um 'casa comigo!' assim na bucha. Oi? Mas não era ele que não sabia se comprava uma bicicleta ou se casava depois de tanto tempo de namoro? Só quando o sujeito se vê sem a mulher incrível ao lado, resolve tomar um fortificante de decisões e passa a resolver tudo na hora. Como era solteira com S maiúsculo, a culega não titubeou: respirou fundo, ignorou o pedido de casório e encerrou o assunto. Quem quer casar com defunto todo trabalhado em paletó de madeira e passar a lua de mel no cemitério? Cruz-credo-ave-maria, pé de pato bangalô três vezes!

A solteira terminou o dia com duas ligações do além e pensou seriamente em encomendar uma água benta das boas pra espantar assombração. Pena que não teve tempo de se benzer antes do último telefonema do dia. E nesse caso o defunto número três não chamou; latiu. Assim era o toque destinado a tão sarnento morimbundo. O sujeito nem tinha esquentado a cova, velado há poucos dias. Ela começa a pensar se a turma do Gasparzinho não estava de brincadeira, pois nunca tinha visto tamanha audácia do povo que morava debaixo de sete palmos de terra. A solteira já quase dando curso de 'Como despachar espíritos indesejados em cinco lições' atende o chamado. A fraude desencarnada começa naquele papinho mole e como pretexto diz que não vai fazer mais yoga (e desde quando morto medita?) e pede o telefone do professor que ela havia passado. A solteira descolada responde que como os contatos eram dela, ela mesmo se encarregava de cancelar. 1x0 pras meninas. Vendo que estava perdendo a parada, o indivíduo pergunta novamente se está tudo bem com ela, tentando puxar mais um papo furado. A culega não deu conta e respondeu em alto e bom som que ele já tinha perguntado isso. 2x0. O morto sem graça nem tem tempo de engrenar outro assunto, já que a solteira resolveu lembrá-lo da multa que ele levou dirigindo o carro dela. O cliente número um da funerária não se recordava do acontecido e ouviu tintim por tintim como, quando e onde foi. E agora a melhor parte: a danada custava R$ 560,00 e precisava ser paga logo, pois o carro dela já estava vendido. Ele assustadíssimo e pê da vida (ou da morte), responde secamente com um 'ok, vou pagar' e termina a conversa. 15x0 pras meninas.

A solteira se olhou no espelho se sentindo a mulher mais poderosa do universo, mas por via das dúvidas colocou um trevo de quatro folhas na cabeceira da cama e jogou um olho grego na bolsa pra garantir. E que fique claro: defunto bom é defunto morto!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Conto de fadas às avessas

A história abaixo confirma que a teoria que em 2012 o mundo acaba é pura balela. Porque o mundo já acabou e a gente está vivendo com os farelos dele. Farelos loucos, por sinal.

Era uma vez uma doce solteira. Com fala mansa, bom coração e querida por gregos e troianos. Trabalhando um dia até tarde, encontrou sem querer uma colega de trabalho num bar e foi recebida por uma mesa lotada de pessoas, incluindo um certo sujeito atraente. Como ela ainda tinha muita coisa para fazer, não pode se sentar com a turma, mas trocou algumas frases com o rapaz e foi embora 10 minutos depois.

No dia seguinte, sua colega de trabalho diz que o sujeito a achou linda, meiga e queria seu msn. Contou que ele ficou encantado e falou nela durante um tempo. Tá com cara de príncipe, né? Pois é. A nossa querida solteira sofria do mal do coração bom, e levemente envaidecida com essa paixão à primeira vista, logo passou seus contatos e esperou o contato virtual. Dois dias depois lá vem o nosso pseudo-príncipe conversar. Ele estudava com a colega de trabalho da solteira, era um rapazinho bonitinho com descedência italiana e realmente estava interessado. A solteira sentia o coração até palpitar quando a janelinha do seu conde italiano piscava na tela do computador. Nada poderia ser melhor: ele era bonito, rico, gente fina e ainda com o toque dourado de ser descendente europeu. O mundo era bom e niguém sabia.

Cerca de três vezes por semana, eles batiam papo. Todas na empresa já estavam cientes do Pomarola e torciam para que ela fosse visitar os parentes longícuos dele na Toscana ou em Milão ou em qualquer cidadezica italiana que desse 'buon giorno' e se comesse capeleti, lasanha e bruscheta todo santo dia. Já se podia avistar o jovem casal correndo pelos campos de trigo ao entardecer, ela com um vestido florido e cabelos ao vento, tomando bons vinhos e vendo as bicicletas passarem pela estradinha de terra. Ah... Que bucólico!
Por cerca de três meses, eles conversaram no msn. Trocaram telefones, paqueraram e tentaram se reencontrar duas vezes, mas São Solteiro não colaborava. Em uma das vezes ele estava fora da cidade quando a solteira o chamou para ir num show e na segunda vez ela tinha trabalhos da faculdade e não poderia ir. Até que um dia, finalmente, o nosso pseudo-conde convidou a solteira para ir a um bar. Ela aceitou o convite entusiasmada e começou a pensar em qual figurino usaria. Depois de tanto tempo de conversa eles finalmente iriam se ver ao vivo e a cores. A solteira estava radiante, ouvindo Laura Pausini e Eros Ramazzotti dia após dia. Dois dias antes do encontro, ele telefona e pergunta se havia problema em ir no aniversário de um amigo dele. A solteira não gostou muito da mudança de planos. Poxa, depois de três meses teclando no pc, quase tendo um faniquito a cada hora que ele aparecia no msn, ele iria querer encontrá-la num bar cheio de amigos dele? Mas como queria encontrar com a figura, topou.

No dia D ele telefonou à tarde confirmando tudo, querendo saber se ela iria mesmo. A solteira disse que sim e antes de ir ao encontro pegou um cineminha com uma amiga. Como demorou um pouquinho a mais, o pseudo-conde telefonou novamente perguntando se ela tinha se perdido, visivelmente ansioso para encontrá-la. Uma ansiedade compreensível e que enche a mulherada de orgulho ao ver o bofe comendo as unhas enquanto a gente não chega. É quase tão bom quanto sair com uma roupa nova tendo certeza que você consegue dominar o mundo. Diante desses indícios, a solteira tascou um sorrisão confiante na boca, estufou o peito e partiu pro abraço. Ao chegar no bar, viu uma  mesa cheia de amigos. Um detalhe não muito agradável: eram 3 homens e umas oito mulheres. Mas ela estava segura que nenhuma daquelas meninas ali apresentavam perigo, pois o rapaz queria que ELA chegasse. Quando se viram, ele foi super simpático, fez as apresentações necessárias com a turma e se sentaram. Todos começaram a conversar e a noite parecia agradabilíssima.

Eis então que nosso querido rapaz avisa a solteira que iria ver uns amigos que estavam na esquina e em dez minutinhos voltaria. Ela sorriu para ele e engatou um papo com as meninas da mesa. Conversaram sobre trabalho, novela, Big brother, férias, roupas, barzinhos, nova cor de esmalte,  filmes em exibição, cerveja, comida, celular, medo de altura, funcionamento de um liquidificador, física quântica, matança das baleias, endoscopia, casamento entre anões, tudo-o-que-você-pode-imaginar. Já haviam se passado 40 minutos. Sim, quarenta minutos e nada do sujeito voltar. Ela olhava no relógio, coçava a nuca, consertava o vestido, bebia o fim da dose de caipirinha e nada. Até os amigos dele começaram a perguntar onde é que o infeliz estava. Tentou ligar para ele mas seu celular não dava sinal. Cansada e super sem graça com a situação, se despediu de seus novos amigos e disse para eles avisarem ao pseudo-príncipe que tinha ido embora.

Se levantou sem sair do salto e começou a caminhar em direção de onde ele possivelmente estaria. Qual não foi sua surpresa quando ao virar a esquina o encontra rolando de rir com seus amiguinhos, esquecido do mundo? Nesse momento, ao lembrar que ele a abandonou na mesa com estranhos por quase uma hora e estava conversando idiotices com seus colegas, o sangue da boa solteira ferveu. Cutucou o sujeito pelas costas e aí aconteceu o mais inacreditável: ele a cumprimentou como se não a visse há séculos!! Fez uma cara de real surpresa e alegria para a solteira. Ela achando que estava doida, diz que vai embora e escuta da fraude: 'mas já'? Ela range os dentes, dá um tchau o mais seco possível e vai embora. O encontro terminou em pizza sabor anchova.

 Depois do episódio de completa insanidade, ela comenta com sua colega de trabalho o que aconteceu. Completando o passeio pelo sanatório, sua colega diz que realmente ele tem fama de maluquinho, mas não falou nada para não atrapalhar o romance. A pessoa decide não te contar que o amigo dela é um completo lunático para te ajudar? Será em qual sentido filosófico da experiência humana que ela achou que ajudaria?

Obviamente depois do ocorrido, a solteira e o conde italiano maluco nunca mais conversaram, mas ele ainda perguntou por ela segundo a colega de trabalho. É, 2012 tá bombando mesmo. Aja coração!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Don't cry for me Argentina

A história é tão surreal que sou obrigada a contá-la na primeira pessoa para que você acredite. Eu até hoje duvido um pouco.

     Era a minha primeira viagem internacional. É, foi aqui pra Buenos Aires, lugar lotado de brasileiros, tão pertinho da gente que nem precisa de passaporte, mas era a primeira vez que eu viajava para fora. Meu primo morava lá há um tempo e iria me hospedar em sua casa. Era janeiro e o calor da cidade tentava competir com o do Rio de Janeiro. Buenos Aires fervia. Como meu primo trabalhava o dia todo e adoro caminhar sozinha, pude me esbaldar pelas ruas, ainda mais com um metrô que funcionava direitinho. E se você solteira, estiver se sentindo a pior das criaturas, tão sensual quanto uma garrafa térmica, sem conseguir pegar gripe suína no chiqueiro, vá a Buenos Aires. Olhe agora no site da Tam, Gol, olhe passagem de ônibus, alugue um jegue, vá patins, mas vá. Eu não sei bem o que as brasileiras tem, mas elas tem um borogodó.

Eu estou longe de ser uma Luana Piovanni, sou baixinha, magra e com cara de menina. Porém ao pisar na terra dos hermanos, eu praticamente me transformei na Daniela Sarayba. Era eu sair na rua pra ouvir a a música da Julia Roberts no filme 'Uma linda mulher'. O dia em que eu botei as pernocas de fora num short curto, pensei que a cidade fosse entrar em colapso. Mulheres, meninos, senhores, velhinhos, cachorros, motoristas, cegos, todos me olhavam num misto de surpresa e admiração. E pra continuar o encanto portenho, os argentinos são muito bonitos. De verdade. Tem loiros dos olhos castanhos, morenos dos olhos verdes, cabeludos, carecas, com barba, de terno, de skate, de tudo quanto é jeito. Do caixa do supermercado ao transeunte, todos são bonitos. Óbvio que não são todos todooos, mas desconheço aqui no Brasil uma concentração por metro quadrado tão linda assim. Eu me apaixonava a cada 15 minutos em média. Eu virei o pescoço para olhar, eu sorri diante dos olhares, eu paquerei inocentemente muito. Se houvesse um padre por perto, eu teria me casado inúmeras vezes. E acho até que poderia ser feliz pra sempre.

     Resolvi então numa ensolarada manhã conhecer o Malba (recomendo- um dos museus mais bacanas que vi). Peguei meu mapa, meus óculos escuros e fui passear com meu macacão jeans curto, claro. Chegando perto da linda faculdade de direito na Recoleta não conseguia saber qual direção do museu. Havia um fluxo grande de alunos e todos eram deliciosamente argentinos. Vi um moçoilo tão bonito, mas tão bonito no estacionamento que devo ter ficado uns 8 minutos sem respirar, 'popotizada'. Me deixei sentar nos degraus da entrada faculdade e admirar mais aqueles seres. Agora imagine se eu tivesse sentada na porta de qualquer faculdade daqui. Só ia ter menino novo dividido basicamente em duas turmas: a dos Jah-reggae-vibration, com colares de miçanga, sandália de couro, blusas do Bob Marley saindo do DCE e falando 'sohh véi...' e a facção dos playba-hip-hop, com colares de prata da grossura de uma corrente pra prender cachorro, tênis horríveis cheios de parafernálias que mais parecem de astronauta e faladores de coisa do tipo 'fraga', 'doido demais' e afins. Dá vontade jogar uma bomba nas calouradas pra ver se esses tipos são extintos. Quando lembro que num passado remoto eu curtia a turminha do jah-reggae-vibration, tenho até uma vergonhinha.

     Voltemos a Buenos Aires. Saí da faculdade de direito e fui atravessar a ponte que liga o prédio (bem bonito por sinal, com suas colunas imponentes) ao outro lado da rua quando escolhi os três rapazinhos mais bonitos para pedir informação. Não é que eles não sabiam onde era o Malba? Fiquei chocada e continuei meu caminho até que um moçoilo que não estava na turma deles veio falar comigo. 'Você quer ir ao Malba'? Admito que nem tinha prestado atenção na pessoa, sobretudo porque ele estava de roupa social e não possuía nada de extraordinário. Mas ele era bonitinho, com o cabelo escuro, magro e alto. Falei que queria conhecer e ele respondeu que estava um pouco longe para ir a pé. Era tarde, eu não havia comido, o sol estava castigando e estava cansada de caminhar. Agradeci a informação e quando fui me despedir ele se vira para mim e diz:
    - Eu tenho duas horas livres. Se você quiser posso te acompanhar no Malba.

    Fiquei sem palavras. Que gentileza! Depois de trocar umas cinco frases  ele se oferece para me acompanhar! Olha São Solteiro aí, gente! Eu topei meio sem graça e nos apresentamos. A ficha: Ignácio, estudava direito, conhecia Florianópolis, apresentou a faculdade de direito toda, me pagou um lanche (aiai...gentilezas primárias acabam comigo) e era super gente fina. Fomos caminhando e conversando sobre música, trabalho, Brasil, Argentina, futebol. Acabamos não indo ao Malba. Ele me levou a um outro museu ali perto e ficamos  vendo obra por obra. Para completar a fofura, eu ainda recebia aulinhas básicas de história argentina. Às vezes ele tocava na minha cintura bem de leve pra ouvir ou tentar entender o que meu portunhol falava. Estava rolando um climinha super gostoso. Só faltava chover brigadeiro pra ficar melhor. E pasmem: nós ficamos juntos por mais de cinco horas entre caminhadas e museus.

     Chegou a hora de ir embora e fui acometida por uma estupidez monstra. Na despedida, pensei comigo: não vou beijá-lo para ele não achar que mulher brasileira é fácil. Pois é, pois é. Com esse raiocínio de ameba, eu me dei bem mal.. Ele se vira e super cortês diz que quer me convidar pra jantar no dia seguinte. Meu Deus, é um conto de fadas? Cadê a abóbora?? Como não levei celular na viagem, dei o telefone da casa onde eu estava e acho que de tão emocionada acabei não pegando os contatos dele. Sai flutuando e pensando como seria especial o jantar com Ignácio. Na manhã do outro dia fui fazer umas comprinhas e precisei ligar para a casa do meu primo. Ligo e a ligação cai em outro lugar. Ligo novamente e percebo para meu total desespero que tinha anotado o telefone errado. A ficha caiu na hora: passei o número errado pro bofe. Me senti como um argentino no velório da Evita Perón; ar-ra-sa-da. Conheço um menino super interessante e passo o telefone errado a ele? Céus, onde foi que eu errei? E para completar não pego os contatos dele?? Nem telefone, nem email, nem nada? Eu era uma típica anta da fauna brasileira.

     De tarde voltei à faculdade de direito e sai perguntando a alguns estudantes se conheciam o sujeito. Não satisfeita, escrevi o nome dele (eu havia lido o sobrenome dele em sua carteirinha de aluno) numa folha de papel e fiquei sentada à espera de um milagre. Fui no registro acadêmico e não achei seus dados. Ele não estava no orkut nem facebook. Acabei saindo pra jantar acompanhada aquele dia; eu e Murphy, Murphy e eu. Juntinhos.

ps.: Ignácio, se você estiver lendo essas linhas, me perdoe. E pode marcar o jantar que dessa vez eu juro que vou!



domingo, 14 de março de 2010

Solteiras em apuros

Para iniciar as histórias solteirísticas, vamos a uma fresquinha, acontecida há pouco tempo.

    Quatro amigas solteiras resolveram sair para uma noite original, regada a black music. Além de curtirem boa música e bom papo, iriam comemorar a saída da toca de uma solteira que havia terminado um longo namoro. Se arrumaram, colocaram sapatos confortáveis e rumaram pra festa. O universo conspirava a favor. Por enquanto.

    Ao chegarem foram recepcionadas por dançarinos vestidos a caráter e luzes coloridas piscantes, dignos de cena de filme. A noite começava com sapato bicolor e muitas risadas. Ok, nenhuma sabia dançar black music direito, uma delas não se atreveu a mexer nenhum dedinho da mão pra dançar a la gringo-sambando-no-carnaval, não tinha um bofe bonito ainda pra alegrar as retinas e o local dava pistas que em pouco tempo iria virar uma sauna dançante. Mas elas estavam debaixo do ventilador, a solteira que estava com crise alérgica não soltou um mísero espirro e a cerveja estava gelada. Ponto pras meninas.

    Eis que de repente, não mais que de repente, adentram no recinto cerca de cinco centenas de pessoas, como num enxame. O lugar foi enchendo, lotanto, bombando e quase explodindo de tantos cerumanos amontoados. Como era de se esperar, os ventiladores não conseguiram nem fazer cosquinha no calor de 47ºC que reinava soberano. Era como uma festa nos terrenos do capeta; pensando bem, até o coisa-ruim iria pedir arrego e querer um ar condicionado só pra ele. A fila pra comprar bebida tinha dado cria e estava giga, o ice vendido lá era o pior do mercado e a maquiagem havia ido pras cucuias a long time ago. A turma então se dividiu: duas solteiras mais animadas alheias ao calor infernal se jogaram na pixta e encontraram com semi-conhecidos (amigos de amigos seus que você conversou apenas uma vez por 15 min num aniversário da turma) e as outras duas sofredoras de menopausa precoce foram tomar uma brisa lá fora. Beleuza. Uma das solteiras animadas encontrou um bofe interessante que era um semi-conhecido e puxou papo. Quando se conheceram ela estava embolada com um rapaz. Na segunda vez que se viram ele estava acompanhado. Agora na terceira o placar estava 0 x0 e era hora de marcar um gol, até que...

    Ela foi ao banheiro acompanhada da amiga para se refrescarem do calor. Disposta a voltar pra pixta e intensificar o papo com o bofe, recebe a ligação de uma das solteiras que estava lá fora. Resumo da conversa:
_ Cadê você mulé??
_ Menina, você tem que ver a pancadaria que tá rolando aqui no buteco! Garrafa voando, gente gritando, uma confusão! Um quebra pau danado! Meu Deus, ligo pra polícia e ninguém atende! Coisa horrorosa confusão pancadaria pesada copo sendo quebrado jesussss...

E ela desliga o celular.

    Com medo do que pudesse estar acontecendo, as solteiras animadas saem em direção ao buteco do quebra pau e encontram as outras duas assustadíssimas na porta. Uma tremia da cabeça aos pés e a outra contou que ficaram presas no banheiro esperando a confusão passar. Era a narração de uma cena do 'Tropa de Elite'. As outras duas ensopadas  de suor não conseguiram falar nada diante das sobreviventes do massacre da Candelária. Obviamente que as duas assustadas foram embora na mesma hora sem olhar pra trás e como as quatro haviam vindo juntas, uma das solteiras animadas acaba voltando também de carona. Fica uma solteira dissidente na esperança de voltar com o semi-conhecido. Assim que se vê sozinha e suada, vê o tal moçoilo e conta o que aconteceu, mostrando que estava só e preocupada. O que faz o infeliz então pra desgosto geral da nação? Faz uma cara de anteontem, fica mudo como uma porta e sai lentamente oferecendo suas largas costas. Era hora de se beliscar e ver que aquilo tudo era fruto da sua imaginação. As solteiras ainda estavam lá, os ventiladores cumpriam seu papel, o semi-conhecido era um semi-bom-partido e a dança comia solta. Mas não. Não mesmo.

    A solteira animada se viu sozinha, cozida de calor a léguas de sua casa e ainda por cima a pé. Só faltava desabar um temporal e seu celular cair na enxurrada. Porque desgraça quando vem costuma trazer a família toda. Só que existe um santo protetor das solteiras em apuros, São Solteiro, amiguinho de longa data de Santo Antônio. Ele colocou no caminho dela dois semi-conhecidos de uma das solteiras que estavam lá na festa e ela ficou com eles até o final. Foi deixada em casa sã  salva. As outras três entre assustadas e incrédulas com a aventura, foram dormir. Fim de noite.

    Moral da história: a saída que seria o debute da solteira enclausurada quase estampou a capa do Super. E a solteira animada se deparou com um fraude com quase 1,80m de altura.

Stay on the scene, like a sexy machine.

Ser solteira: mais que um estado civil

Olá,
já são quase três anos de uma solteirice bem vivida. Inúmeros casos vividos e ouvidos de amigas próximas e outras nem tão próximas assim  refletem que ser solteira vai além dos limites de estado civil. Porque conheço solteiras com alma de casadas e casadas com espírito de solteiras. Tecla sap pro namorado ciumento de plantão: ser solteira perpassa muito mais por uma postura em relação à vida do que outra coisa. É a chance que você tem de fazer o que quer, com quem quer, na hora que quer, numa liberdade que assusta muita gente. É se sentir poderosa ao trocar olhares nas ruas e não morrer de remorso lembrando do bofe fixo. É ficar mais antenada em você e suas vontades, desejos e medos. É comprar uma calça de vinil deslumbrante e sair linda só pra você. É se ver mais de perto, lá no fundo e descobrir que o céu pode ser o limite.

     Não que essa condição libertária (e talvez libertina??) seja exclusiva pras solteiras. Há mulheres incríveis casadas e com filhos que dão um baile em muita menina soltinha por aí. Mas percebo que tais características afloram com mais vigor nas solteiras. E é esse tipo de solteira que quero falar no blog; solteiras bem resolvidas que se metem em situações que beiram a falta de solução. E muitas vezes matam a gente de rir.

    Você deve saber do que estou falando. Sabe aquela amiga da sua prima que resolveu sair linda e maravilhosa pra jantar com um moçoilo e esquece a etiqueta gigante pra fora do vestido? Ou aquela vez em que no leito de amor você ouviu da boca do sujeito os detalhes da primeira vez dele com a ex-namorada? E a famosa história da sua colega de trabalho que foi sassaricar (no sentido de se divertir, nem sempre ligado a homens) numa micareta e ouviu em alto e bom som de um rapazote: 'ô tia, você não acha que já passou da idade, não?'. É, ser solteira é pra poucas e boas. Não é trabalho pra amadoras.