sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vá de retro!!

Tem gente que consegue manter contato com o pessoal que foi pro andar de cima- ou de baixo. Os espíritos se comunicam por copos que movem, cartas psicografadas, pequenos sinais. Agora cadáver usando telefone é novidade na área. Xô urucubaca!

Numa bela manhã, a solteira foi para uma reunião. Queria ter ficado fazendo ginástica, mas foi de bom humor. O compromisso era a 40km de distância. Ok, era longe pra caramba, mas o esforço compensava o resultado. Ela pegou um trânsito enorrrme no trajeto, mas colocou um cd do Beck no carro e relaxou. A reunião demorou horrores e ela voltou exausta e verde de fome, entretanto se saiu super bem com o cliente. E a pobre achando que aquilo era o pior que poderia ter acontecido no dia. Pobrezinha mesmo.

No meio da tarde a secretária passou uma ligação sem dizer quem era. A solteira imaginou ser alguém familiar e atendeu displicentemente. Eis então que do outro lado da linha e da vida, surge a voz de um ex namorado falecido há no mínimo cinco anos. O sujeito depois de sua morte não tinha estabelecido nenhum tipo de contato sobrenatural. Tava morto, enterrado e sepultado. Para confirmar sua moribundez, diz que teve um sonho ruim com ela e ficou preocupado. A partir daí a conversa se desenrola naquele papinho mais velho que andar pra frente. Indagações sobre a vida, trabalho e... relacionamentos. O defunto pergunta se a solteira tinha casado e ela responde que estava separada e curtindo a vida. Ele informa na lápide que continuava casado mas sua relação não estava bem- do verbo 'quero-trair-minha-esposa'. O cerumano é bicho estranho. O sujeito resolve aparecer cinco anos depois dizendo que teve um pesadelo daqueles com você e te informa que o casamento está indo pro beleléu. Aí quando a gente vê uma fraude assim na rua e muda de passeio, eles acham que ficamos loucas. A solteira encerrou o papo e pensou se devia mandar celebrar uma missa pro infeliz.

Nossa amiga continou trabalhando até que seu celular toca. Para espanto do coveiro, era o defunto número dois que jazia há mais ou menos um ano. Quase rindo da situação ela atende o telefone. Mal fala alô e já escuta um 'oi linda' de arrepiar os cabelos e na lata é informada que o morto está mal por sentir a falta dela. Antes da solteira recuperar o fôlego diante de tamanho disparate, ele tasca um 'casa comigo!' assim na bucha. Oi? Mas não era ele que não sabia se comprava uma bicicleta ou se casava depois de tanto tempo de namoro? Só quando o sujeito se vê sem a mulher incrível ao lado, resolve tomar um fortificante de decisões e passa a resolver tudo na hora. Como era solteira com S maiúsculo, a culega não titubeou: respirou fundo, ignorou o pedido de casório e encerrou o assunto. Quem quer casar com defunto todo trabalhado em paletó de madeira e passar a lua de mel no cemitério? Cruz-credo-ave-maria, pé de pato bangalô três vezes!

A solteira terminou o dia com duas ligações do além e pensou seriamente em encomendar uma água benta das boas pra espantar assombração. Pena que não teve tempo de se benzer antes do último telefonema do dia. E nesse caso o defunto número três não chamou; latiu. Assim era o toque destinado a tão sarnento morimbundo. O sujeito nem tinha esquentado a cova, velado há poucos dias. Ela começa a pensar se a turma do Gasparzinho não estava de brincadeira, pois nunca tinha visto tamanha audácia do povo que morava debaixo de sete palmos de terra. A solteira já quase dando curso de 'Como despachar espíritos indesejados em cinco lições' atende o chamado. A fraude desencarnada começa naquele papinho mole e como pretexto diz que não vai fazer mais yoga (e desde quando morto medita?) e pede o telefone do professor que ela havia passado. A solteira descolada responde que como os contatos eram dela, ela mesmo se encarregava de cancelar. 1x0 pras meninas. Vendo que estava perdendo a parada, o indivíduo pergunta novamente se está tudo bem com ela, tentando puxar mais um papo furado. A culega não deu conta e respondeu em alto e bom som que ele já tinha perguntado isso. 2x0. O morto sem graça nem tem tempo de engrenar outro assunto, já que a solteira resolveu lembrá-lo da multa que ele levou dirigindo o carro dela. O cliente número um da funerária não se recordava do acontecido e ouviu tintim por tintim como, quando e onde foi. E agora a melhor parte: a danada custava R$ 560,00 e precisava ser paga logo, pois o carro dela já estava vendido. Ele assustadíssimo e pê da vida (ou da morte), responde secamente com um 'ok, vou pagar' e termina a conversa. 15x0 pras meninas.

A solteira se olhou no espelho se sentindo a mulher mais poderosa do universo, mas por via das dúvidas colocou um trevo de quatro folhas na cabeceira da cama e jogou um olho grego na bolsa pra garantir. E que fique claro: defunto bom é defunto morto!

2 comentários:

  1. tenho muito que aprender com essas solteiras!

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  2. gostei muito do seu blog... gostaria de saber se essa "culega" é fictícia... pois parece que conheço a peça...

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