domingo, 16 de maio de 2010

Queimadores oficiais de largada

Já reparou em gente que gosta de queimar a largada? Um povo que antecipa as coisas, tem reações fora do contexto, se precipita e irrita o outro. Pior são os que resolvem discutir a relação que nem se iniciou ainda. Dá vontade de mandar o sujeito amarrado num foguete ir conversar com o dragão de São Jorge ou bater dois dedinhos de prosa com São Solteiro.

A solteira paquerou por um bom tempo um moçoilo tentador. Alto, cabelos cacheadinhos como de um anjo, corpitcho de dar água na boca. Mas nunca conseguia cavar uma oportunidade e coragem suficientes de conversar com o Apolo. É, a solteira em questão devia estar passando por um momento difícil. Ver um Apolo solteiro em BH dando sopa é quase como encontrar cabeça de bacalhau. Encontrá-lo e não estabelecer comunicação é digno de levar três bofetadas por dia pra ver se endireita o corpo. Eu acho.

Tempo depois, se encontraram num evento em que ele finalmente reparou na moçoila e até rolou um climinha interessante, mas só isso. Aí os meses, a vida e as fraudes passaram. E enfim chegou o grande dia. Solteira se embonecou numa frente única linda pra sair à noite do jeito que o diabo gosta e ficou livre-leve-solta em função de umas doses de cachaça intercaladas com cervejinhas. Do jeito que o diabo gosta parte II. O Apolo apareceu no local quase no final da noite com aquela cara de homem bulinador de mulher que faz nascer um calorão na gente. A solteira fingiu que não viu e se posicionou estrategicamente. Ele apenas não só viu como cumprimentou, papeou, seduziu e a chamou pra dançar. Aí foram mais alguns goles na cerva, um olho-no-olho e pimba, beijo! O encanto começou a cair nesse exato momento. No lugar de ouvir sininhos no encontro labial, rolou uma sonora buzinada do Chacrinha na cabeça da solteira. O beijo foi entendido de formas distintas por ambas as partes. Enquanto ele achava que deveria beijar sem língua, ela tava no espírito Roto Rooter. Grande e importante diferença de objetivos, lembre-se disso. Ainda assim ele a chamou para dormir em sua casa umas três vezes durante a noite, deixando claro o que queria. A solteira não quis e se despediram. No dia seguinte ele queria vê-la mas não deu, pois teve que trabalhar. Acabaram se vendo no outro dia rapidinho, já que a solteira ficou resfriada e não estava podendo fazer muita coisa. A fraude tentou novamente assuntos de cama e lençol que foram gripadamente negados.

Durante a semana em que ela ficou na base do Naldecon, Aspirina, Benegripe e afins, ele mandou mensagens perguntando se ela estava melhor, ligou uma 3x e a chamou para sair. A solteira não telefonou nenhuma vez e se limitava responder as mensagens. Finalmente ela melhorou e eles se encontraram brevemente. Deram uns beijinhos fracos, mas um ficou feliz em ver o outro. No dia seguinte tiveram uma saída decente ou indecente.

Ele trabalhou até tarde e encontrou a solteira altas horas. Falando que estava cansado e que queria algo mais light, sugeriu irem para sua casa tomar umas cervejas. Uma das desculpas mais antigas que se tem na face da Terra para transar com alguém. A solteira relutou um pouco mas acabou topando a empreitada, afinal um cara daqueles merecia atenção maior. Chegando no apê do sujeito, outra decepção. A casa fedia a cigarro, o sofá era xexelento, tinha uma mesa velha cheia de trecos, banheiro meia boca e com a janela quebrada. Parecia casa concorrente do 'Lar doce lar' do Luciano Huck. Se começou um embolamento no sofá xexelento entre os dois sem muita química. Uns beijos sem gosto, uns abraços truncados, a pegada desencontrada... Triste, mas a solteira continuava ali na esperança de um futuro melhor. Afinal, a gente é brasileiro e não desiste nunca. O que resolve fazer o rapazote? Levanta do sofá, acende um beck e se senta numa cadeira de frente pra ela e a pergunta qual foi a última vez que se apaixonou. Que mêda! A solteira desconfiou que ele estivesse doidão, mas não estava. Ele não estava; ele era. Apolo depois veio com um papinho que desde seu último namoro não estava conseguindo se envolver com ninguém, que deveria ser isso a resposta da falta de 'fogo' dos dois... A solteira quis ser absorvida pelo sofá xexelento ou fazer com que ele virasse um pudim. Você na casa do sujeito, no sofá do sujeito, beijando o sujeito. Ele se levanta, dá um tapa na pantera e fala que vocês não estavam num 'fogo'. Tico e Teco da solteira ficaram muito confusos e ela olhou pro teto procurando a câmera. Só podia ser pegadinha do Malandro.

Não satisfeito com a resenha, o Apolo veio falando que estava num momento de ficar dentro dele, não estava conseguindo sair pra se envolver, estava num momento de não se abrir. Mas você é um homem ou uma lata de sardinha enferrujada? A solteira, sem muitas palavras, disse que não pensava em ser tão audaciosa em relação a eles. Tradução: querido, não dá pra você fazer igual o Latino e tocar o terror promovendo uma festinha no apê? Depois de tentar explicar sem nenhum sucesso o momento difícil que passava, Apolo contou sobre sua vida, seus pais, onde morou, livro que leu, receita de bolo, exame de fezes, tudo. Solteira estupefata no sofá xexelento só ouvia. O momento ápice da noite foi quando depois de falar até babar, ele saca um violão e toca canções olhando nos olhos da culega. E depois a convidou pra ir no cinema. Ela viu a cena e teve uma vontade incontrolável de espatifar a viola na cabeça da fraude. Achando que tinha conquistado a presa com seus dotes de Oswaldo Montenegro, ele a levou para seu quarto tentando assuntos que se resolvem sem roupa. A solteira estava mais fria que Sibéria e Apolo pergunta se ela era feita de ferro. Ela se apenas olhou para o cidadão e indagou se ele não tinha a menor ideia do porquê ela não queria nada. Ele pensou três segundos e concluiu: é, estraguei tudo. E quase retomou a ladainha sentimental pra se justificar, mas a solteira impediu a chatisse e pediu pra ir embora. Apolo deu carona e no carro falou qual era o real motivo daquela fraude toda. Disse que estava num momento galinha e que como ela era legal e especial, não queria pisar na bola, não estava nessa sintonia. Solteira quase pediu pra parar o carro e vomitar. Mas ainda se usa essa desculpa pra falar que não está mais afim de alguém? Em qual século estamos mesmo, gente? Depois de ouvir as asneiras, ela passou a mão na cabeça dele, disse que entendia tudo, que ele não precisava se justificar de absolutamente nada, deu um choquinho de despedida. Entrou em casa e pensou que teria sido muito mais fácil, rápido e menos enfadonho ele ter a trazido pra casa no começo da noite e depois sumir do mapa. Bastava negar uns convites pra sair, não retornar ligações ou mensagens no celular que o recado estaria dado. Mas não. O Apolo preferiu a forma mais chata de se terminar algo que não tinha nem começado ainda.

Sendo assim ela concluiu que se ficasse com ele mais uns três meses, a fraude já estaria escolhendo nomes dos filhos  e olhando na Caixa Econômica os juros para comprarem uma casa financiada. É, o melhor é se divertir com os pobres mortais mesmo.

Um comentário:

  1. Bom dia.
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... passando para conhecer o seu espaço.
    Gostei muito daqui, interessante.
    Certamente voltarei mais vezes.
    SWaudações Educacionais !

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