quarta-feira, 17 de março de 2010

Don't cry for me Argentina

A história é tão surreal que sou obrigada a contá-la na primeira pessoa para que você acredite. Eu até hoje duvido um pouco.

     Era a minha primeira viagem internacional. É, foi aqui pra Buenos Aires, lugar lotado de brasileiros, tão pertinho da gente que nem precisa de passaporte, mas era a primeira vez que eu viajava para fora. Meu primo morava lá há um tempo e iria me hospedar em sua casa. Era janeiro e o calor da cidade tentava competir com o do Rio de Janeiro. Buenos Aires fervia. Como meu primo trabalhava o dia todo e adoro caminhar sozinha, pude me esbaldar pelas ruas, ainda mais com um metrô que funcionava direitinho. E se você solteira, estiver se sentindo a pior das criaturas, tão sensual quanto uma garrafa térmica, sem conseguir pegar gripe suína no chiqueiro, vá a Buenos Aires. Olhe agora no site da Tam, Gol, olhe passagem de ônibus, alugue um jegue, vá patins, mas vá. Eu não sei bem o que as brasileiras tem, mas elas tem um borogodó.

Eu estou longe de ser uma Luana Piovanni, sou baixinha, magra e com cara de menina. Porém ao pisar na terra dos hermanos, eu praticamente me transformei na Daniela Sarayba. Era eu sair na rua pra ouvir a a música da Julia Roberts no filme 'Uma linda mulher'. O dia em que eu botei as pernocas de fora num short curto, pensei que a cidade fosse entrar em colapso. Mulheres, meninos, senhores, velhinhos, cachorros, motoristas, cegos, todos me olhavam num misto de surpresa e admiração. E pra continuar o encanto portenho, os argentinos são muito bonitos. De verdade. Tem loiros dos olhos castanhos, morenos dos olhos verdes, cabeludos, carecas, com barba, de terno, de skate, de tudo quanto é jeito. Do caixa do supermercado ao transeunte, todos são bonitos. Óbvio que não são todos todooos, mas desconheço aqui no Brasil uma concentração por metro quadrado tão linda assim. Eu me apaixonava a cada 15 minutos em média. Eu virei o pescoço para olhar, eu sorri diante dos olhares, eu paquerei inocentemente muito. Se houvesse um padre por perto, eu teria me casado inúmeras vezes. E acho até que poderia ser feliz pra sempre.

     Resolvi então numa ensolarada manhã conhecer o Malba (recomendo- um dos museus mais bacanas que vi). Peguei meu mapa, meus óculos escuros e fui passear com meu macacão jeans curto, claro. Chegando perto da linda faculdade de direito na Recoleta não conseguia saber qual direção do museu. Havia um fluxo grande de alunos e todos eram deliciosamente argentinos. Vi um moçoilo tão bonito, mas tão bonito no estacionamento que devo ter ficado uns 8 minutos sem respirar, 'popotizada'. Me deixei sentar nos degraus da entrada faculdade e admirar mais aqueles seres. Agora imagine se eu tivesse sentada na porta de qualquer faculdade daqui. Só ia ter menino novo dividido basicamente em duas turmas: a dos Jah-reggae-vibration, com colares de miçanga, sandália de couro, blusas do Bob Marley saindo do DCE e falando 'sohh véi...' e a facção dos playba-hip-hop, com colares de prata da grossura de uma corrente pra prender cachorro, tênis horríveis cheios de parafernálias que mais parecem de astronauta e faladores de coisa do tipo 'fraga', 'doido demais' e afins. Dá vontade jogar uma bomba nas calouradas pra ver se esses tipos são extintos. Quando lembro que num passado remoto eu curtia a turminha do jah-reggae-vibration, tenho até uma vergonhinha.

     Voltemos a Buenos Aires. Saí da faculdade de direito e fui atravessar a ponte que liga o prédio (bem bonito por sinal, com suas colunas imponentes) ao outro lado da rua quando escolhi os três rapazinhos mais bonitos para pedir informação. Não é que eles não sabiam onde era o Malba? Fiquei chocada e continuei meu caminho até que um moçoilo que não estava na turma deles veio falar comigo. 'Você quer ir ao Malba'? Admito que nem tinha prestado atenção na pessoa, sobretudo porque ele estava de roupa social e não possuía nada de extraordinário. Mas ele era bonitinho, com o cabelo escuro, magro e alto. Falei que queria conhecer e ele respondeu que estava um pouco longe para ir a pé. Era tarde, eu não havia comido, o sol estava castigando e estava cansada de caminhar. Agradeci a informação e quando fui me despedir ele se vira para mim e diz:
    - Eu tenho duas horas livres. Se você quiser posso te acompanhar no Malba.

    Fiquei sem palavras. Que gentileza! Depois de trocar umas cinco frases  ele se oferece para me acompanhar! Olha São Solteiro aí, gente! Eu topei meio sem graça e nos apresentamos. A ficha: Ignácio, estudava direito, conhecia Florianópolis, apresentou a faculdade de direito toda, me pagou um lanche (aiai...gentilezas primárias acabam comigo) e era super gente fina. Fomos caminhando e conversando sobre música, trabalho, Brasil, Argentina, futebol. Acabamos não indo ao Malba. Ele me levou a um outro museu ali perto e ficamos  vendo obra por obra. Para completar a fofura, eu ainda recebia aulinhas básicas de história argentina. Às vezes ele tocava na minha cintura bem de leve pra ouvir ou tentar entender o que meu portunhol falava. Estava rolando um climinha super gostoso. Só faltava chover brigadeiro pra ficar melhor. E pasmem: nós ficamos juntos por mais de cinco horas entre caminhadas e museus.

     Chegou a hora de ir embora e fui acometida por uma estupidez monstra. Na despedida, pensei comigo: não vou beijá-lo para ele não achar que mulher brasileira é fácil. Pois é, pois é. Com esse raiocínio de ameba, eu me dei bem mal.. Ele se vira e super cortês diz que quer me convidar pra jantar no dia seguinte. Meu Deus, é um conto de fadas? Cadê a abóbora?? Como não levei celular na viagem, dei o telefone da casa onde eu estava e acho que de tão emocionada acabei não pegando os contatos dele. Sai flutuando e pensando como seria especial o jantar com Ignácio. Na manhã do outro dia fui fazer umas comprinhas e precisei ligar para a casa do meu primo. Ligo e a ligação cai em outro lugar. Ligo novamente e percebo para meu total desespero que tinha anotado o telefone errado. A ficha caiu na hora: passei o número errado pro bofe. Me senti como um argentino no velório da Evita Perón; ar-ra-sa-da. Conheço um menino super interessante e passo o telefone errado a ele? Céus, onde foi que eu errei? E para completar não pego os contatos dele?? Nem telefone, nem email, nem nada? Eu era uma típica anta da fauna brasileira.

     De tarde voltei à faculdade de direito e sai perguntando a alguns estudantes se conheciam o sujeito. Não satisfeita, escrevi o nome dele (eu havia lido o sobrenome dele em sua carteirinha de aluno) numa folha de papel e fiquei sentada à espera de um milagre. Fui no registro acadêmico e não achei seus dados. Ele não estava no orkut nem facebook. Acabei saindo pra jantar acompanhada aquele dia; eu e Murphy, Murphy e eu. Juntinhos.

ps.: Ignácio, se você estiver lendo essas linhas, me perdoe. E pode marcar o jantar que dessa vez eu juro que vou!



Um comentário:

Fala solteira!